quinta-feira, 17 de abril de 2008

A influência da mídia através das denominações

O verdadeiro papel da mídia seria o de informar, mas como ela cumpre esse papel? Os meios de comunicação informam, porém sempre com uma certa manipulação, mesmo que não seja dos fatos em si mas também das opiniões, apesar dos responsáveis negarem qualquer coisa do tipo. O rádio, a TV e a internet se aproveitam da idéia, já generalizada às pessoas comuns pelo “ensino de gramática normativa” (Kanavillil Rajagopalan), de que o nome próprio não está ligado a qualquer opinião. Mas, como diz Rajagopalan: “[...] uma das qualidades mais destacadas de um nome logicamente próprio é a de ser simplesmente inominável. [...] pois o próprio ato de nomeação se encarrega de emprestar-lhe um atributo”. Dessa forma a mídia se utiliza desses nomes próprios para controlar as idéias das pessoas sem que elas percebam, pois não se pode negar a influência que os nomes e termos utilizados para se passar informações possuem na formação de opiniões. Disfarça-se assim certos valores que são passados através de referências aparentemente neutras. Deixando a maior parte da sociedade achando que as descrições e opiniões de quem tem o controle da mídia são, na verdade, referências e fatos consumados. È esse o assunto tratado no artigo “Designação: a arma secreta, porém incrivelmente poderosa, da mídia em conflitos internacionais.” de Kanavillil Rajagopalan, doutor em Lingüística Aplicada, Pós-doutor em Filosofia da Linguagem, professor da UNICAMP e autor do livro (entre outros) “Políticas de Linguagem: perspectivas identitárias”. Nesse artigo o autor focaliza na utilização de nomeações para criar certos conceitos, principalmente em conflitos internacionais, pela mídia. Mostra como sempre existe dois lados da história e os meios de comunicação fazem questão de mostrar um só. Que com certos termos divide-se os envolvidos no conflito em mocinhos e bandidos como num filme de Hollywood e forma-se uma “sociedade de espetáculos” (Debord 1967) que assiste a esse show da guerra esperando que o bem vença e torcendo contra o mal ingenuamente acreditando em tudo que lhe é passado. O professor deixa bem claro, contudo que não procura tomar partido de ninguém em seus exemplos mas sim mostrar o efeito da mídia sobre toda uma sociedade com uma simples denominação. È impossível, ao menos para qualquer um que não esteja cegado pela mídia, discordar das opiniões do lingüista autor. Vemos governantes petulantes o suficiente para falarem de suas opiniões como se fosse primeiro, uma opinião compartilhada por toda sociedade sob seu poder e segundo, ameaçando “indiretamente” qualquer um que vá contra seus conceitos. Isso aconteceu nos E.U.A. quando o presidente Bush filho nos empurrou goela a baixo uma lógica binária criada por ele nomeando seus inimigos de terroristas e eixo do mal e fazendo questão de terminar seu discurso dizendo que “Quem não está conosco está contra nós”. Nota-se claramente sua intenção de manipular as mentes a favor de seus ideais. As pessoas a quem ele nomeou terroristas são mártires em outro lugar, inclusive os atualmente nomeados terroritas-suicida que não passam de pessoas “que sacrificam suas vidas em prol de uma causa” (Kanavillil Rajagopalan). Assim que é pronunciado em seu discurso as palavras eixo do mal está implícito que o seu lado é o do bem. Sem contar que o mesmo cidadão que havia sido treinado pelo próprio E.U.A. e que foi de grande ajuda para o mesmo em outras guerras agora é tachado de “mente dos terroristas”. Muito conveniente. E esses são apenas alguns exemplos de uma guerra, imagine se fossemos falar a partir da Guerra do Golfo, onde teve inicio o real interesse da mídia em vender as guerras como espetáculos. Não se pode pensar que os “terroristas” estão certos, mas também é necessário ver que nenhum lado está com a razão completa e perceber que sempre quem conta a história é o lado que vence. O que é realmente de suma importância é que não nos deixemos ser manipulados como peças de xadrez e aprendermos a formar nossa opinião observando o que vem da mídia mas também vendo o lado oposto. Kanavillil Rajagopalan escreve um artigo muito esclarecedor para todos, apesar de em alguns pontos parecer que escreve como que para tomar partido de algum lado dos envolvidos em seus exemplos faz questão de deixar claro que não é essa sua intenção. Indicado para aqueles que trabalham na área de comunicação, seja ela qual for e também para qualquer cidadão a procura de elucidar-se sobre os truques da mídia e ver que as histórias da Disney com a madrasta má e a princesa boazinha não são só para crianças.

Um comentário:

Angela disse...

gostei!!
Ẽ sempre importante discutirmos esses aspectos da midia